Conflitos Frequentes em Processos de REURB
- Edson Ferreira
- 1 de out.
- 2 min de leitura

A Regularização Fundiária Urbana (REURB) é um procedimento complexo que envolve aspectos jurídicos, urbanísticos, sociais, ambientais e registrais.
Por natureza, é um processo coletivo: atinge dezenas ou centenas de proprietários, envolve a Prefeitura, órgãos ambientais, cartórios e, em alguns casos, o Ministério Público.
Essa multiplicidade de atores torna a REURB um terreno fértil para conflitos e impasses, que muitas vezes atrasam ou inviabilizam a regularização.
Este artigo aborda os principais litígios e desafios práticos que surgem nesses procedimentos e como o advogado pode preveni-los ou solucioná-los.
1. Resistência de Moradores em Arcar com Custos
Embora a REURB-S (interesse social) seja custeada pelo Poder Público, a REURB-E (interesse específico) exige que os beneficiários paguem taxas, custas e honorários técnicos.
É comum que parte dos condôminos ou loteadores:
· se recuse a pagar sua cota;
· alegue que não pode arcar com custos;
· questione a forma de rateio.
Risco: o inadimplemento de alguns compromete o avanço do processo.
Solução: cláusulas de responsabilidade solidária, assembleias claras e, em último caso, cobrança judicial.
2. Conflitos com Loteadores Originais
Em muitos casos, o loteamento irregular ainda está em nome do loteador (ou seus herdeiros).
Quando a REURB é proposta pelos moradores, surgem conflitos:
· Loteadores exigem compensações financeiras;
· Contestam a perda de domínio;
· Apresentam oposição administrativa ou judicial.
Solução: a lei prevê a titulação direta aos ocupantes, desde que comprovada a consolidação da ocupação antes de 22/12/2016, mas muitas vezes o embate é inevitável.
3. Exigências Excessivas do Poder Público
Prefeituras, muitas vezes, condicionam a REURB a obras de infraestrutura caras, inviáveis para moradores de classe média.
Exemplo: exigir pavimentação completa, redes subterrâneas ou áreas verdes além do previsto em lei.
Solução: atuação judicial, demonstrando que a lei não exige a mesma infraestrutura de novos loteamentos (Lei 6.766/79), mas apenas a compatibilização possível em núcleos consolidados.
4. Ações Possessórias e Disputas de Vizinhança
Durante a REURB, podem surgir ações possessórias:
· vizinhos alegando invasão de área;
· disputas sobre limites de glebas;
· sobreposição de matrículas ou registros antigos.
Solução: cooperação entre advogados, engenheiros e cartórios, com levantamentos topográficos e perícias.
5. Judicialização em Massa
Quando não há consenso interno, moradores ou grupos podem:
· ajuizar ações individuais contra o condomínio/associação;
· contestar cobranças de honorários ou custos;
· impugnar a CRF no Judiciário.
Solução: assembleias bem conduzidas, registros formais de decisões e transparência na gestão.
6. Conflitos Ambientais
O Ministério Público ou órgãos ambientais podem intervir para impedir a regularização em áreas sensíveis, alegando risco ambiental.
Solução: apresentar estudos técnicos, medidas compensatórias e demonstrar que a permanência da população é compatível com o meio ambiente.
Conclusão
Os conflitos na REURB são previsíveis: resistência ao pagamento, embates com loteadores, exigências abusivas da Prefeitura, disputas possessórias, judicialização e questionamentos ambientais.
O advogado deve atuar de forma preventiva e estratégica, conciliando interesses, conduzindo assembleias e, quando necessário, levando a questão ao Judiciário.
A REURB não é apenas uma questão de títulos de propriedade, mas também de gestão de conflitos coletivos, exigindo do profissional postura técnica, firme e mediadora.


